sexta-feira, 13 de maio de 2011

Carta O Berro..........................................................repassem
 
 
 
"Lamento profundamente que a discussão do Código Florestal foi colocada preferentemente num contexto econômico, de produção de commodities e de mero crescimento econômico."

                                   
         Companheiros e companheiras,

Por razões de saúde que me prendem em casa, não pude e estar ai com vocês. Que valha essa pequena mensgem.

Lamento profundamente que a discussão do Código Florestal foi colocada preferentemente num contexto econômico, de produção de commodities e de mero crescimento econômico.
Isso mostra a cegueira que tomou conta  da maioria dos parlamentare e também de setores importantes do Governo. Não tomam em devida conta as mudanças ocorridas no sistema-Terra e no sistema-Vida que levaram ao aquecimento global.
Este é apenas um nome que encobre práticas de devastação de florestas no mundo inteiro e no Brasil, envenenamento dos solos, poluição crescente da admosfera, diminuição drástica da biodiversidade, aumento acelerado da desertificação e, o que é mais dramático, a escassez progresiva de água potável que  atualmente já tem produzido 60 milhões de exilados.
 Aquecimento global significa ainda a ocorrência cada vez mais frequente de eventos extremos, que estamos assistindo no mundo inteiro e mesmo em nosso pais, com enchentes devastadoras de um lado, estiagens prolongadas de outro e vendavais nunca havidos no Sul do Brasil  que produzem grandes prejuizos em casas e plantações destruidas.
Só cegos e estupidificados pela ganância do lucro não vêem as conexões causais entre todos estes fenômenos.
A Terra está doente. A  humanidade sofredora de 860 milhões passou, por causa da crise econômico-financeiro dos paises opulentos, onde grassam ladrões, salteadores de beira de estrada das economias populares, a um bilhão e cem milhões de pessoas.
Consequência: a questão não é salvar o sistema econômico-financeiro, não é produzir mais grãos, carnes e commodities em geral para exportar mais e aumentar o lucro.
A questão central é salvar a vida, garantir as condições fisico-químicas e ecológicas que garantem a vitalidade e integridade da Terra e permitir a continuidade de nossa civilização e do projeto planetário humano.  A Terra pode viver sem nós e até melhor. Nós não podemos viver sem a Terra. Ela é  nossa única Casa Comum e não temos outra. Ela é a Pacha Mama dos andinos, a grande mãe, testemunhada por todos os agricultores e a  Gaia, da ciência moderna que a vê  como um superorganismo vivo que se autoregula de tal forma que sempre se faz apto para produzir e reproduzir vida.
Então, é nossa obrigação manter a floresta em pé. É uma exigência da humanidade, porque ela pertence a todos, embora gerenciada por nós . O equilíbrio climático da Terra e a suficiência de água para a humanidade passa pela floresta amazônica. É ela que sequestra carbono, nos devolve em oxigênio, em flores, frutos e biomassa. Por isso temos que manter nossas matas ciliares para garantir a perpetuidade dos rios e a preservação da pegada hidrológica (o quanto de água temos a nossa disposição). É imperioso não envenenar os solos pois os agrotóxicos alcançam o nivel freático das águas, caem nos rios,  penetram nos animais pelos alimentos quimicalizamos e acabam se depositando dentro de nossas células, nos entoxicando lentamente.
A luta é pea vida, pelo futuro da humanidade e pela preservação da Mãe Terra.  Vamos sim produzir, mas respeitando o alcance e o limite de cada ecossistema, os ciclos da natureza e cuidando dos bens e serviços que  Mãe Terra gratuita e permanentemente nos dá.
Que devolvemos à Terra como forma de gratidão e de compensação? Nada. Só agressão, exaustão de seus bens. Estamos conduzindo, todos juntos, uma guerra total contra a Terra. E não temos nenhuma chance de ganharmos essa guerra. Temo que a Mãe Terra se canse de nós e não nos queira mais hospedar aqui. Ela poderá nos elimiar como eliminamos uma célula cancerígena. Devemos devolver seus beneficios, com cuidado, respeito, veneração para que ela se sinta mãe amada e protegida e nos continue a querer como filhos e filhas queridos.
Mas não foi a devastação que fomos criados e estamos sobre esse ridente Planeta. Somos chamados a ser os cuidadores, os guardiães desta herança sagrada que o Universo e Deus nos entregaram. E vamos sim  salvar a vida, proteger a Terra e garantir um futuro comum, bom para todos os humanos e para a toda a comunidade de vida, para as plantas, para os animais, para os demais seres da criação.
A vida é chamada para a vida e não para a doença e para morte. Não permitiremos que um Codigo Florestal mal intencionado ponha em risco nosso futuro e o futuro de nossos filhos, filhas e netos. Queremos que eles nos abençoem por aquilo que tivermos feito de bom para a vida e para a Mãe Terra e não tenham motivos para nos amaldiçoar por aquilo que deixamos de fazer e podíamos ter feito e não fizemos.
O momento é de resistência, de denúncia e de exigências de transformações  nesse Código que  modificado honrará  a vida e alegrará a grande, boa e generosa Mãe Terra.
                                               Leonardo Boff
                               Companheiro de lutas e de esperança
 
Petropolis, RJ, 7 de maio de 2011.

quinta-feira, 12 de maio de 2011


"Carta Pastoral de João XXIV, no principia do terceiro milênio"

Caríssimas irmãs, caríssimos irmãos em Cristo!

Hoje a Cristandade, na sua viagem de povo peregrina, entra no terceiro milênio. A Igreja tem diante de si, muitos problemas candentes. Mas a nossa esperança é o Senhor da história com as suas promessas e a sua graça. Nós nos confiamos ao Seu Espírito com humildade e com grande confiança.
Prometemos solenemente, com as mesmas palavras de João Paulo I, "não trair a ardente e íntima oração de Jesus ao Pai, o seu testamento, na noite da última ceia, o seu mandamento mais importante: "faz com que todos sejam uma só coisa: como Tu, Pai, estás em mim e eu em Ti, também eles estejam em nós . Assim o mundo acreditará que Tu me enviaste" (João 17,21)"
Com o Concílio convocado pelo Papa  XXIII, surgiu uma nova aurora. Entramos na era do ecumenismo. 0 seu sucessor, Paulo VI, continuou sua obra com sabedoria e humildade. Diante do Conselho Mundial das Igrejas, ele teve a coragem de dizer que o Papado, na sua forma nascida de uma dramática história, podia ser um grave obstáculo à tão desejada unidade das Igrejas.
O seu amável sucessor, João Paulo I, com surpreendente clarividência, indicou, na colegialidade viva e operante entre Papa e Bispos, "a prova e o selo da catolicidade no caminho da unidade das Igrejas". Entrementes, muitos passos foram dados, mas muito ainda resta a fazer. É muito importante não deixar passar a hora da graça!
Um passo indispensável é, agora, uma reflexão humilde, solidária e corajosa sobre a história do Papado em relação à unidade das Igrejas.
Devemo-nos colocar todos diante do Senhor comum e refletir, à luz da Palavra de Deus e da antiquíssima tradição, sobre o ministério petrino desejado pelo próprio Cristo.

O segundo milênio trouxe-nos as separações entre as Igrejas. As causas e as responsabilidades foram diversas, não tendo, com certeza, sido a última, nem a menos importante, uma concepção demasiadamente mundana do poder e do ministério na Igreja. Uma grande nuvem coletiva obscureceu os corações e a inteligência de muitos.
Lembrando todas essas coisas, não podemos não chorar todos juntos. Mas devemos também lembrar o bem e os passos dados na direção certa e admitir que nem sequer a sapiência dos Papas, dos Bispos e dos outros Dirigentes de Igrejas foram capazes de modificar as estruturas que impediam a reconciliação completa. E, por longo tempo, as Igrejas separadas não se reconheciam sequer como Igrejas irmãs, e viviam fechadas cada uma em sua torre de defesa.
Deus, grande e misericordioso, seja bendito pelo sopro de Seu Espírito que fez renascer um grande desejo em todas as partes da Cristandade. Todos os passos dados até agora são dom gratuito da Sua misericórdia.
A conversão ecumênica reforçou e promoveu um espírito de diálogo, de respeito, e de busca conjunta da verdade. Apesar do pleno conhecimento das dificuldades ainda existentes, proponho hoje alguns pontos para a vida da Igreja Católica, tendo em vista a tão desejada unidade dos cristãos:
1 - Já que o trono, a tiara e os títulos pomposos eram sintomas de patologias profundas e causa de irritação entre Igrejas irmãs, proíbo energicamente que se chame o Papa com títulos como "Sua Santidade" . E nem sequer o título de Santo Padre me agrada, pois Jesus, na Sua Grande oração pela Unidade, chama Seu Pai de “Pai Santo” (Jo, 17, 11) Esperamos que, no futuro, jamais alguém se permita chamá-lo "Santíssimo", ou "Beatíssimo".
2 – Não existirão mais os chamados "prelados de honra de Sua Santidade". Os cardeais da Igreja Romana não se vestirão de púrpura “com fazem os ricos”. No Vaticano não mais títulos como "Eminência” ou "Excelência”. Somos todos irmãos em torno de Cristo, humilde servo de Deus, que se fez homem para a nossa salvação.
3 - Os diversos diálogos interconfessionais das últimas décadas produziram resultados surpreendentes. Ouvindo juntos a palavra de Deus, conseguimos remover muitos obstáculos sendo, por isso, chegada a hora de pôr fim a todas as consequências possíveis e dar passos decisivos, rumo à unidade e à reconciliação, numa fecunda diversidade.
4- - Como sinal desse renovado fervor, o "Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos" será elevado ao nível dos mais importantes Dicastérios Romanos, melhor ainda, tornar-se-á Congregação, com a específica competência de criar e animar estruturas capazes de favorecer o processo e o acolhimento dos resultados provenientes dos diálogos interconfessionais, em estreita colaboração com as Conferências Episcopais e as Faculdades Teológicas de todo o mundo ..
5 - 0 Papa propõe-se a fazer todo o possível para tornar viva e operante a Colegialidade em todos os níveis. Para recuperar as estruturas sinodais do primeiro milênio, muito teremos a aprender das Igrejas irmãs que conservaram e desenvolveram com muita eficácia aquelas estruturas.
6 - Tendo em vista a função ecumênica do Bispo de Roma, todas as Conferências Episcopais e todos os Patriarcados participarão da eleição dele. As modalidades exatas serão determinadas pelo próximo Sínodo dos Bispos.
         7 - 0 mesmo Sínodo decidirá sobre a função e o futuro do “corpo diplomático”  Até mesmo o nome não é mais aceitável. As Igrejas não podem definir-se como instituição diplomática. Bem ao contrário, precisamos é de organismos completamente diferentes, que sirvam para a missão da Igreja na promoção da Paz e da Justiça.
Em relação a tudo aquilo que se refere à ligação e à comunicação contínua entre o Bispo de Roma e as Igrejas locais, serão encontrados modelos semelhantes aos do primeiro milênio.
8 - Uma ponderada interpretação teológica do primado do Papa, feita à luz da Palavra de Deus e dos documentos dos Concílios, demonstrou que o magistério e o governo do Papa só estão plenamente integrados no interior da Igreja.
Motivo pelo qual o Papa não é um mestre de fé de fora para dentro ou de cima para baixo. Ele faz parte dos discípulos reunidos em torno de Cristo, único Mestre, e faz parte tanto da "Igreja Docente" quanto da  "Igreja Discente".
No exercício de sua atividade pastoral para a Igreja Universal, ele é obrigado a seguir o exemplo do humilde Servo de Deus, Jesus Cristo. Por isso, ele observará escrupulosamente o principio da subsidiariedade.
9 - 0 Papa tem o direito de saber o que se crê na Igreja, com sinceridade de consciência e com a liberdade dos filhos de Deus. Não poderá exercer o seu magistério e ministério da unidade se não existir um amplo espaço de diálogo franco e sincero dentro da Igreja.
É por isso que, certo de poder contar com  consenso dos irmãos Bispos, faço abolir, com efeito imediato, o que, no Código de Direito Canônico (can. 1371, item 1), está prescrito sobre punibilidade do não assentimento em relação aos documentos não infalíveis do Papa.
(Cân. 1371 — Seja punido com justa pena: 1) quem, fora do caso previsto no cân. 1364 § 1, ensinar uma doutrina condenada pelo Romano Pontífice ou pelo Concílio Ecuménico, ou rejeitar com pertinácia a doutrina referida no cân. 750 § 2 ou no cân. 752, e, admoestado pela Sé Apostólica ou pelo Ordinário, não se retrata)

         10  - Além da comum profissão de fé e dos votos ou promessas batismais, não se farão mais, na Igreja Católica, juramentos particulares de fidelidade e lealdade. Basta seguir a palavra firme de Jesus: "Seja o vosso falar: Sim, sim; Não, não. Tudo o que disso passa, procede do maligno" (Mt. 5,37).
Já que vivemos da contínua antecipação de confiança que nos é concedida por Deus, também nós faremos todo o possível para criar uma atmosfera de confiança recíproca. Por este motivo, estão abolidos todos os instrumentos de controle e se criará um clima de confiança uns nos outros.
11 - Todos os problemas polêmicos, como, por exemplo, a função da mulher na Igreja, a participação das mulheres nos processos decisórios de toda a Igreja e uma eventual ordenação das mulheres para o sacerdócio ministerial, serão discutidos no diálogo ecumênico e dentro da Igreja com franqueza, respeito e paciência. E a decisão final terá caráter estritamente colegial.
         12 - A Cristandade inteira, todos os discípulos de Cristo, juntos, são chamados a ser luz do mundo, sacramento de paz, de justiça, de salvação e de cura. Por isso, buscaremos um diálogo respeitoso com todas as religiões não-cristãs, mais ainda, com todos os homens de boa vontade.
Perscrutando os sinais dos tempos, daremos especial atenção ao evangelho da paz e ao caminho da não-violência, a exemplo de Jesus, aproveitando também, com muita alegria, tudo o que a graça de Deus operou, em relação a isto, entre as religiões não-cristãs.
Recomendo a minha pessoa e o meu ministério na Igreja à vossa oração. Da minha parte, eu também recomendo todas e todos à graça de Deus Pai e do Nosso Senhor Jesus Cristo.

Vosso irmão em Cristo,  João XXIV

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Fez-se vingança, não justiça
Alguém precisa ser  inimigo de si mesmo e contrário aos valores humanitários mínimos se aprovasse o nefasto crime do terrorismo da Al Qaeda do 11 de novembro de 2001 em Nova Iorque. Mas é por todos os títulos inaceitável que um Estado, militarmente o mais poderoso do mundo, para responder ao terrorismo se tenha transformado ele mesmo num Estado terrorista. Foi o que fez Bush, limitando a democracia e suspendendo a vigência incondicional de alguns direitos, que eram apanágio do pais. Fez mais, conduziu duas guerras, contra o Afeganistão e contra o Iraque, onde devastou uma das culturas mais antigas da humanidade nas qual foram mortos mais de cem mil pessoas e mais de um milhão de deslocados.
Cabe renovar a pergunta que quase a ninguém interessa colocar: por que se produziram tais atos terroristas? O bispo Robert Bowman de Melbourne Beach da Flórida que fora anteriormente piloto de caças militares durante a guerra do Vietnã respondeu, claramente, no National Catholic Reporter, numa carta aberta ao Presidente:”Somos alvo de terroristas porque, em boa parte no mundo, nosso Governo defende a ditadura, a escravidão e a exploração humana. Somos alvos de terroristas porque nos odeiam. E nos odeiam porque nosso Governo faz coisas odiosas”.  
Não disse outra coisa Richard Clarke, responsável contra o terrorismo da Casa Branca numa entrevista a Jorge Pontual emitida pela Globonews de 28/02/2010 e repetida no dia 03/05/2011. Havia advertido à CIA e ao Presidente Bush que um ataque da Al Qaeda era iminente em Nova York. Não lhe deram ouvidos. Logo em seguida ocorreu, o que o encheu de raiva. Essa raiva aumentou contra o Governo quando viu que com mentiras e falsidades Bush, por pura vontade imperial de manter a hegemonia mundial, decretou uma guerra contra o Iraque que não tinha conexão nenhuma com o 11 de setembro. A raiva chegou a um ponto que por saúde e decência se demitiu do cargo.
Mais contundente foi Chalmers Johnson, um dos principais analistas da CIA também numa entrevista ao mesmo jornalista no dia 2 de maio do corrente ano na Globonews. Conheceu por dentro os malefícios que as mais de 800 bases militares norte-americanas produzem, espalhadas pelo mundo todo, pois evocam raiva e revolta nas populações, caldo para o terrorismo. Cita o livro de Eduardo Galeano “As veias abertas da A.Latina” para ilustrar as barbaridades que os órgãos de Inteligência norte-americanos por aqui fizeram. Denuncia o caráter imperial dos Governos, fundado no uso da inteligiência que recomenda golpes de Estado, organiza assassinato de líderes e ensina a torturar. Em protesto, se demitiu e foi ser professor de história na Universidade da Califórnia. Escreveu três tomos “Blowback”(retaliação) onde previa, por poucos meses de antecedência, as retaliações contra a prepotência norte-americana no mundo. Foi tido como o profeta de 11 de setembro. Este é o pano de fundo para entendermos a  atual situação que culminou com a execução criminosa de Osama Bin Laden.
Os órgãos de inteligência norte-americanos são uns fracassados. Por dez anos vasculharam o mundo para caçar Bin Laden. Nada conseguiram. Só usando um método imoral, a tortura de um mensageiro de Bin Laden, conseguiram chegar ao seu esconderijo. Portanto, não tiveram mérito próprio nenhum.
Tudo nessa caçada está sob o signo da imoralidade, da vergonha e do crime. Primeiramente, o Presidente Barak Obama, como se fosse um “deus” determinou a execução/matança de Bin Laden. Isso vai contra o princípio ético universal de “não matar” e dos acordos internacionais que prescrevem a prisão, o julgamento e a punição do acusado. Assim se fez com Hussein do Iraque,com os criminosos nazistas em Nürenberg, com Eichmann em Israel e com outros acusados. Com Bin Laden se preferiu a execução intencionada, crime pelo qual Barak Obama deverá um dia responder. Depois se invadiu território do Paquistão, sem qualquer aviso prévio da operação. Em seguida, se sequestrou o cadáver e o lançaram ao mar, crime contra a piedade familiar, direito que cada família tem de enterrar seus mortos, criminosos ou não, pois por piores que sejam, nunca deixam de ser humanos.
Não se fez justiça. Praticou-se a vingança, sempre condenável.”Minha é a vingança” diz o Deus das escrituras das três  religiões abraâmicas. Agora estaremos sob o poder de um Imperador sobre quem pesa a acusação de assassinato. E a necrofilia das multidões nos diminui e nos envergonha a todos.
Leonardo Boff é autor de Fundamentalismo,terrorismo , religião e paz, Vozes 2009
Leonardo Boff
Teólogo/Filósofo

quarta-feira, 4 de maio de 2011

MATARAM A OSAMA BIN LADEN?

 
"América pode fazer o que quiser. Essa é a história de nosso país. Somos uma nação sob Deus, indivisível com liberdade e justiça para todos”, essa foi a mensagem fundamentalista do presidente Barack Obama, ao anunciar que Osama Bin Laden havia sido assassinado por tropas estadunidenses que atuaram sem prévia autorização do governo do Paquistão, o país onde realizaram sua operação ilegal.
A sigilosa operação, que demandou mobilizar helicópteros e tropas, foi realizada na localidade de Abbottabad, uns 50 km da capital paquistanesa, segundo explicou o presidente Obama e precisou que havia durado 40 minutos e que morreram quatro pessoas, dois colaboradores de Bin Laden e um filho do líder fundamentalista.
Obama também havia dito que suas tropas tinham o cadáver que, segundo os informes, registrava um balaço na cabeça –tiro de graça- e que havia detido duas mulheres e alguns de seus filhos que, que, possivelmente, ninguém sabe onde estão, como os detidos-desaparecidos em Guantanamo ou em qualquer de suas prisões secretas, que conformam uma das maiores violações aos direitos humanos.
Porém, nessa "manhã, meios estadunidenses anunciaram que o cadáver de Bin Laden ‘foi jogado ao mar', assinalando que” a Operação levada a cabo por um comando especializado, foi planejada e realizada no maior segredo e o governo paquistanês não foi informado até depois de que o mesmo tivesse acontecido” (Telam, 3 de maio de 2011 e outras agências).
"O corpo do chefe de Al Qaeda foi retirado da residência em um helicóptero e sepultado em alto mar, seguindo os ritos muçulmanos, informaram fontes oficiais estadunidenses”, em um final especial de novela de terror.
As "cuidadosas” tropas dos Estados Unidos, especializadas em todo tipo de torturas que, Bush justificou publicamente, "sepultaram” no mar a Bin Laden, cumprindo nada menos do que um "rito” muçulmano. Qualquer simples inspetor de polícia suspeitaria desse final.
O atropelo da legislação internacional no Paquistão é mais evidente e responde àquele anúncio apocalíptico de George W. Bush, em 2001, onde declarava ao mundo unilateralmente a "guerra preventiva, sem final e sem fronteiras”, anulando, em sua perspectiva –hoje resgatada por Obama- a soberania de todos os países do mundo.
Foi dito que Bin Laden resistiu ao ataque durante uma hora antes de ser abatido pelas forças de elite estadunidenses e, segundo informou a cadeia CNN, a "missão do comando era a de matar ao líder de Al Qaeda e não de prede-lo” (Telam 2/5/11). Por seu lado, a Comissão Europeia (CE) considerou que sua posição "favorável” à morte de Osama Bin Laden pelas forças estadunidenses "não contradiz os valores e princípios da União Europeia (EU), que advoga pela liberdade, pela democracia e pelo fim da pena de morte em âmbito mundial”.
E continua, "não é a execução de uma sentença de morte. Continuaremos contra a pena de morte no futuro”, como declarou a porta voz comunitária, Pia Ahrenkelde, ao ser interrogada a respeito em conferência de imprensa, segundo um cabo da agência mexicana Notimex (2/5/11).
Porém, por suposto, alinhada, quase colonizadamente, com Washington, a CE rematava que "sem dúvida, sua morte está dentro do contexto dos esforços globais para erradicar o terrorismo” e sua porta voz considerou que isso "faz com que o mundo em que vivemos seja mais seguro, apesar de que não significa no fim do terrorismo”.
Esqueceu de mencionar também que em outro lugar chamado Líbia, haviam sido mortos um filho e os netos de um governante e a centenas de pessoas mediante bombardeios absolutamente ilegais, porque a missão da ONU, também ilegal porque foi atuar sem esperar os relatórios da situação e sem analisar a presença de estrangeiros em território líbio, era "a exclusão aérea” para evitar bombardeios que atingiam à população civil”.
Me atreveria a assegurar que ninguém sabe ao certo que o cadáver com um disparo na cabeça que deforma os traços ao ponto de torná-los irreconhecíveis seja de Bin Laden. E se o atiraram ao mar, será impossível sabê-lo.
Como têm mentido constantemente, inclusive com a verdadeira gênese da queda das Torres Gêmeas, em setembro de 2001, temos todo o direito de colocar em dúvida, mesmo que Washington diga que o DNA certificou que é Bin Laden.
Mentiram descaradamente para invadir e ocupar o Iraque; mentiram da mesma maneira sobre a suposta grande rebelião popular contra Muammar El Khadafi, na Líbia, já que em seguida, por confissão própria de Obama e de acordo com The New York Times, agentes da CIA foram deslocados no final de 2010 na Líbia "para contatar aos (supostos) rebeldes e guiar os ataques da coalizão” (30/3/11). De acordo com o diário "os membros da central de inteligência estadunidense haviam sido transportados há várias semanas ‘em pequenos grupos' em terras líbias, com a missão de estabelecer ‘contato' com os rebeldes e determinar ‘alvos' das operações militares”. Dezenas de membros das forças especiais britânicas e de agentes de espionagem M16 trabalham na Líbia”, informa o diário, recolhendo informação sobre as posições e movimentos das forças leais a Gaddafi”. Agrega que "os empregados da CIA são um número não conhecido de funcionários estadunidenses do serviço secreto que trabalham em Trípoli ou chegaram recentemente”, cita um artigo de Patria Grande, tomando como fonte ao The New York Times (socialista@yahoogroups.com, 3 março de 2011).
A novela de terror da "guerra antiterrorista”, cujo mando está em mãos dos maiores terroristas que a humanidade conhece, sem freios, sem respeito nenhum aos direitos humanos estabelecidos, que acabaram com a credibilidade que alguma vez tiveram as Nações Unidas, ao mesmo tempo em que perpetraram com argumentos falsos o primeiro genocídio do Século XXI –mais de um milhão de mortos em condições atrozes no Iraque e no Afeganistão, que ninguém julga-, continua crescendo a cada dia.
Nunca tão similar essa doutrina do império às "fronteiras seguras”, por meio das quais Adolfo Hitler ameaçava a uma boa parte do mundo, desconhecendo soberanias e direitos internacionais. Novamente estamos ante uma enorme operação publicitária de Washington na que os Estados Unidos tentam conseguir que a atenção pública se desloque de sua brutal e recente operação na Líbia, matando crianças.
Para isso, nada melhor do que colocar em cena, da mesma maneira que Hitler em pleno auge do nazismo, quando convocava ao povo alemão, submisso à sinistra desinformação, planejada como uma arma de dominação e paralisação dessa população, por Joseph Goebbels, hoje multiplicado por milhares de seus imitadores, que o superaram em mãos da ditadura global da desinformação.
Por suposto, no anúncio com estrondo de que, finalmente, após 10 anos, mataram a Bin Laden, não recordaram que esse havia sido –e ninguém sabe se continuava sendo- um homem ligado à CIA, que, sob esse comando criou aos chamados "talibãs” de Al Qaeda, para combater com guerrilhas apoiadas pelos Estados Unidos aos soviéticos no Afeganistão, em tempos da Guerra Fria.
Bin Laden e sua família foram sócios de grandes negócios da família Bush e essa história foi magnificamente contada pelo cineasta estadunidense Michael Moore.
A incógnita sobre a verdade desses fatos nos acompanhará sempre ou por algum tempo, o suficiente para que seja um fato consumado a invasão de todos os países que o império deseje ocupar, sob e mandato de que "América pode fazer o que queira”, mesmo que seja acabar com a humanidade.
 
Stella Calloni
Jonalista e escritora argentina
Adital
Tradução: ADITAL

segunda-feira, 2 de maio de 2011


MANIFESTO CONTRA AS ALTERAÇÕES NO ATUAL CÓDIGO FLORESTAL
Nós, conselheiros do Conselho Diretor da Associação Brasileira de Organizações não Governamentais (ABONG), trabalhando na defesa de seus princípios e na implementação de seus objetivos, reunidos em Conselho em 12/03/2011, vimos apresentar esta moção contrária às alterações que estão sendo propostas para o Código Florestal ora vigente (lei no 4.771/65), de relatoria do deputado Aldo Rebelo, da Comissão para Revisão do Código Florestal da Câmara dos Deputados, pelos fatos abaixo descritos:
  1. 1. A criação da figura da área rural consolidada, ponto que anistia todos os desmatamentos e ocupações irregulares acontecidos até 22 de julho de 2008, inclusive em áreas protegidas, além de premiar os infratores da lei como é hoje, não traz uma solução para as ocupações irregulares, principalmente aquelas mais vulneráveis às ocorrências climáticas. Ao contrário, condena as populações que ocupam estas áreas.
  2. 2. A redução de 30 para 15 metros da área de preservação mínima para rios com largura de até cinco metros; a alteração do parâmetro para definição de Área de Preservação Permanente (APP) de margem de rio, deixando de ser o nível mais alto e passando a ser o seu leito menor; e a exclusão das várzeas do conceito de APP permitirão novos desmatamentos em 90% dos rios brasileiros sem qualquer análise de impacto, além de dispensar de recuperação áreas que hoje deveriam ser reflorestadas. O resultado impacta diretamente na qualidade de vida da população brasileira, uma vez que poderá causar erosão de solo, carreamento de fertilizantes e agrotóxicos e sedimentos para os rios, deixando-os assoreados e com a água contaminada e poluída.
  3. 3. A mudança no conceito de pequena propriedade rural para imóveis com até quatro módulos fiscais, alterando a área do módulo fiscal, poderá estimular um processo de fragmentação e desmembramento das propriedades em todo o país, principalmente dos imóveis rurais que já desmataram mais do que a lei permite para que sejam atingidos por este dispositivo e, assim, dispensados da obrigatoriedade de recompor a vegetação nativa.
  4. 4. A isenção de Reserva Legal (RL) para imóveis com até quatro módulos fiscais em todo país, sem limite de número de propriedades por proprietários, alcança todas as propriedades com ou sem vegetação no percentual exigido, dispensando a averbação – ou seja, não há reconhecimento
  1. formal e público das áreas com remanescentes -, o que poderá induzir a novos desmatamentos, que trazem prejuízos à biodiversidade e à água, portanto para toda a sociedade.
  2. 5. Ao desconsiderar quatro módulos fiscais da base de cálculo para definição da área de reserva legal nas médias e grandes propriedades, o relatório beneficia infratores ambientais, cria injustiça para com os que ainda não desmataram e estimula o desmatamento. Áreas vegetadas ainda existentes ficarão sem a proteção da reserva legal e, portanto, sem o controle mais restrito.
  3. 6. Ao permitir a compensação de reservas legais em outros estados ou por intermédio de pagamento a um fundo ambiental, o relatório propõe a quebra da lógica do código em vigor de existência de vegetação mínima por bacias hidrográficas e por estados, que garante o mínimo de proteção à biodiversidade e à água regional e localmente, além de quebrar a regra de que o dano ambiental deve ser integralmente reparado.
  4. 7. Ao estabelecer a competência para definir os critérios técnicos de recuperação da reserva legal aos órgãos do Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA) e ao regulamento, a proposta retira do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) e da consulta e debate com a sociedade civil a formulação dessas normas.
  5. 8. A redução das APPs de reservatórios artificiais de 30 para 15 metros em áreas urbanas e de 100 para 30 metros em áreas rurais e a dispensa de RL nos reservatórios para produção de energia elétrica ou abastecimento público permitirá mais desmatamentos no entorno destes reservatórios, contribuindo para o seu assoreamento e a piora da qualidade e escassez de água para a população rural e urbana.
  6. 9. O cômputo das APPs no cálculo das reservas legais, independentemente do tamanho da propriedade, reduz a extensão de áreas que poderiam ser recuperadas. Associada à criação das áreas rurais consolidadas, praticamente inviabiliza qualquer recomposição de reserva legal, pois mais de 95% do desmatamento em todos os biomas aconteceu antes da data de 22 de julho de 2008.
  7. 10. Exclui vegetação situada em altitude superior a 1.800 metros do conceito de APP, sem haver análise técnica do impacto dessa medida, que retira a proteção de áreas importantes do ponto de vista da conservação da biodiversidade.
  8. 11. Ao criar a figura do licenciamento municipal de desmatamentos nos casos de licenciamento municipal de empreendimentos, torna o licenciamento mais vulnerável à corrupção e à pressão locais. A necessidade de autorização estadual do desmatamento é uma garantia contra abusos comumente realizados contra os remanescentes florestais.
  9. 12. Ao anistiar provisoriamente, por até cinco anos e meio, desmatamentos ilegais ocorridos em reserva legal até julho de 2008, e ao declarar moratória de desmatamento por cinco anos (exceto nos casos de solicitação de licença de desmatamento até a entrada em vigor da Lei), o
  1. relatório permite que atividades ilegais em APPs, reservas legais e áreas de uso restrito continuem operando até que o poder público (estados e União) elabore, em até cinco anos contados da entrada em vigor da Lei, programas de regularização ambiental que regulamentem a forma como os produtores rurais se adequarão à legislação. Essa medida permite que mais de 40 milhões de hectares desmatados ilegalmente entre 1996 e 2008 somente no bioma Amazônia continuem sendo utilizados pelos infratores até que o poder público elabore seus programas de regularização ambiental. Até que haja a definitiva aprovação desta lei (que ainda deverá tramitar no Senado e receber sanção ou veto da Presidência), é possível que haja muita solicitação de desmatamento, o que anula completamente os efeitos desta moratória, que nasce completamente desacreditada pelo próprio produtor rural dado o conjunto de flexibilizações propostas exclusivamente para beneficiar aqueles que não cumprem a lei.
São Paulo, 19 de abril de 2011 Conselho Diretor Associação Brasileira de Organizações não Governamentais (ABONG)