quinta-feira, 28 de junho de 2012

CARTA DAS RELIGIÕES E O CUIDADO DA TERRA



No Espaço da Coalizão Ecumênica e Inter-religiosa "Religiões por Direitos", no âmbito da Cúpula dos Povos na Rio+20 para a Justiça Social e Ambiental, contra a mercantilização da vida e em defesa dos bens comuns, os líderes religiosos do Brasil signatários, aderindo à iniciativa da Comissão Episcopal Pastoral para o Ecumenismo e o Diálogo Interreligioso da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e de Religiões pela Paz, reuniram-se para debater a relação entre as religiões e as questões ambientais. Como resultado do diálogo, concordou-se que a agenda das religiões na atualidade não deve desconsiderar a agenda do cotidiano da vida das pessoas na sociedade e das exigências da justiça ambiental.
A agenda das religiões deve incluir os elementos que traçam os projetos do ser humano na busca de realização da sua existência e afirmar compromissos efetivos com a defesa da vida no planeta. Religiões, sociedade, desenvolvimento sustentável e meio ambiente não são realidades distanciadas, mas estreitamente correlatas. As tradições religiosas contribuem para a afirmação dos valores fundamentais da vida pessoal, sócio-econômica e ambiental, orientando para a convivência pacífica e respeitosa entre os povos, culturas e credos, e destes com toda a criação.
Assim, é fundamental na agenda das tradições religiosas hoje:
a) Apresentar ao mundo o sentido da existência humana. A humanidade vive momentos de pessimismo, com sensação de fracasso e desânimo, sobretudo nas situações e ambientes de crises econômicas, de injustiças, de violência e de guerras.
Comprometemo-nos em fazer com que as nossas tradições religiosas afirmem de modo concreto o valor da vida de cada pessoa, independente da sua condição social, religiosa, cultural, étnica e de gênero, ajudando-as na superação dos problemas que lhes afligem no cotidiano, sejam eles de caráter sócio-econômico-político e cultural, sejam eles de caráter pisíquico-espiritual.
b) Promover a educação e a prática do respeito mútuo, do diálogo, da convivência pacífica e da cooperação entre os diferentes povos, culturas e religiões, fundamental no mundo plural em que vivemos.
Assumimos o compromisso de trabalhar para a convergência dos diferentes paradigmas culturais e religiosos dos povos, como uma possibilidade para melhor entendermos o mundo dentro de suas inter-relações e a convivência entre todos os seres humanos.
c) Explicitar mais e melhor o que já possuímos em comum. Nossas tradições já condividem valores religiosos, como a fé em um Ser Criador, o cultivo da relação com Ele, a compreensão da origem e do fim de cada pessoa.
Comprometemo-nos a partilhar as riquezas que possuímos para fortalecer as relações entre nossas tradições, o enriquecimento e o reconhecimento mútuos, bases para a cooperação inter-religiosa em projetos que promovem o bem comum.
d) Discernir juntos os valores que constroem a paz no mundo. Sabemos que a paz não é simples ausência da guerra, mas é fruto da justiça e da prática do amor.
Comprometemo-nos na promoção da convivência pacífica entre os povos e o desenvolvimento da fraternidade e da solidariedade universal, superando todo fundamentalismo e exclusivismo, bem como o consumismo irresponsável que causam conflitos entre as pessoas e os povos.
e) Viver a compaixão para com os mais necessitados, empobrecidos e excluídos da sociedade.
Assumimos o compromisso de realizar juntos projetos sociais que fortalecem a solidariedade nas comunidades religiosas e na família humana.
f) Promover o valor e o cuidado da criação. Tomamos conhecimento das ameaças à vida do planeta, conseqüências dos interesses econômicos que constroem uma cultura utilitarista e consumista na sociedade em que vivemos.
Comprometemo-nos com o desenvolvimento de uma nova ética na relação com o meio ambiente, capaz de orientar novas atitudes defensoras de todas as formas de vida, sustentadas em políticas públicas de justiça ambiental e numa mística/espiritualidade que explicite a gratuidade e o dom da vida da criação.
g) Afirmar elementos de uma ética comum que, sustentada nas convicções religiosas que possuímos, seja capaz de orientar atitudes e comportamentos de paz e de justiça, tanto dos membros das nossas tradições como de todos os povos.
Comprometemo-nos a desenvolver novos comportamentos, com prevalência da ética da tolerância e da liberdade cultural e religiosa, do respeito às diferenças, da dignidade de toda pessoa, da convivência entre credos e culturas, dos direitos humanos.
Finalmente, solicitamos à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável Rio+20, acolher a contribuição das religiões para o cuidado da vida na terra, reconhecendo que os imperativos morais DAS nossas tradições, convicções e crenças, bem como os nossos esforços de diálogo e cooperação inter-religiosa são imprescindíveis para alcançarmos o desenvolvimento sustentável de toda a humanidade.
Exmo. e Revmo. Dom Francisco Biasin
Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-religioso daConferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)
Rev. Pe. Peter Hughes
Secretário Executivo do Departamento de Justiça e Solidariedade do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM)
Revmo. Dom Francisco de Assis da Silva
Primeiro Vice-presidente do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC)
Rev. Dr. Walter Altmann
Moderador do Comitê Central do Conselho Mundial de Igrejas (CMI)
Rev. Nilton Giese
Secretário Geral do Conselho Latino-americano de Igrejas (CLAI)
Rabino Sergio Margulies
Representante da Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro (FIERJ)
Sami Armed Isbelle
Diretor do Departamento Educacional e de Divulgação da Sociedade Beneficente Mulçumana do Rio de Janeiro (SBMRJ)
Ialorixá Laura Teixeira
Coordenadora Estadual do Instituto Nacional da Tradição e Cultura Afro-Brasileiras - Rio de Janeiro (INTECAB)
Irmã Jayam Kirpalani
Direitora Européia da Universidade Espiritual Mundial Brahma Kumaris
Elias Szczytnicki
Secretário Geral e Diretor Regional de Religiões pela Paz América Latina e o Car

domingo, 24 de junho de 2012


GOTAS DA PALAVRA: NATIVIDADE DE JOÃO BATISTA

LEITURAS BÍBLICAS: ISAÍAS 49, 1-6; SALMO 138; ATOS DOS APÓSTOLOS 13, 22-26; EVANGELHO DE LUCAS 1, 57-66.80


“Ele vai chamar-se João” (Lc 1, 60)

Irmãos e irmãos em Cristo, neste domingo da Natividade de João Batista a palavra de Deus está vindo ao nosso encontro como uma luz que ilumina nossas vidas e corações. A Igreja coloca na sua liturgia desta solenidade os textos bíblicos do profeta Isaías, dos Atos dos Apóstolos e por fim, do Evangelho de Lucas para nos ajudar a entender melhor por que celebramos a natividade deste grande profeta que faz a ponte entre o Primeiro e o Segundo Testamento.

Na primeira leitura o autor sagrado relembra ao povo de Israel a sua missão entre as outras nações que é ser luz para todos os povos. Ele configura Israel a uma imagem de um servo sofredor que tem de atender ao chamado de Deus, que desde o ventre materno foi escolhido para esta missão. Diz o autor: “O senhor chamou-me antes de eu nascer” (Is 49,1). Depois confirma este chamado dizendo que: “eu te farei luz das nações, para que minha salvação chegue até aos confins da terra” (v.6). Esta vocação é relacionada também com a de João Batista, o precursor.

Na segunda leitura, Paulo relembra a figura de João Batista como proclamador de um batismo de arrependimento, em preparação à vinda do Messias. João não se coloca como o mais importante e sim como alguém que está a favor da chegada do Messias.

No Evangelho temos a explícita revelação da ação de Deus no meio dos pobres e a favor deles. A notícia sobre a gravidez de Isabel e consequentemente a nascimento do menino João traz muitas admiração e alegria para os vizinhos. Mas o que mais chama a atenção é a impressão do seu nome. O nome dado à pessoa naquela época revelava a sua identidade e sua missão. Por isso João ao ser assim denominado revela a presença de Deus no meio do seu povo. Seu nome é João, que significa: “Deus é misericórdia”. João tem a missão de trazer a todos a misericórdia de Deus. Ele não se esquece dos mais fracos e necessitados.

Assim sendo, nos dias de hoje é importante que nós reflitamos sobra a necessidade de estarmos sendo novas esperanças para as pessoas. Todos os cristãos e cristãs têm a missão de revelar a misericórdia de Deus. Através de nossas ações e testemunhos é que podemos dizer ao mundo que temos uma esperança maior, que é Jesus Cristo.

Muitas vezes nós não somos conscientes do nosso papel na sociedade. É preciso descobrir qual a nossa missão. João Batista chama o povo para a conversão, pois ele foi escolhido desde a sua geração. Nós também já fomos escolhidos para revelar a misericórdia de Deus para as pessoas. Muitas pessoas estão carentes de Deus e somos nós que acreditamos em Deus, em Jesus Cristo, que devemos uma resposta mais sincera e autêntica.

Portanto, nesta solenidade somos incitados a assumirmos a nossa missão de batizado. Devemos ter esperança e dar esperança às pessoas que tanto necessitam de Deus. João continua sendo um exemplo para de como devemos ter claro a nossa missão na mente e no coração. Viva São João!

Pe. Jean


domingo, 17 de junho de 2012

GOTAS DA PALAVRA: 11º DOMINGO DO TEMPO COMUM


LEITURAS BÍBLICAS:  Ezequiel 17,22-24; Sl 91; 2 Coríntios 5,6-10; Marcos 4,26-34

Meus queridos irmãos e irmãs, hoje estamos celebrando o 11º domingo do Tempo Comum conforme o calendário do Ano Litúrgico. É um tempo favorável para que possamos compreender melhor a missão de Jesus Cristo e toda a sua ação pastoral no meio do povo de Israel e de Deus consequentemente.
A palavra de Deus nos comunica a sua vontade e qual deve ser o nosso caminho a seguir. Deus promete que vai fazer diferente no novo projeto para com o seu povo. Afirma pela boca do profeta Ezequiel que vai "tirar o galho da copa do cedro, do mais alto dos seus ramos... e plantarei  sobre um monte  alto e elevado" ( Ez 17, 22).
Esta promessa é para ajudar o povo a confiar no seu Deus. Que ele não deixará o povo sem o seu auxílio, sem a sua presença e ação de cuidado. Através do cuidado de Deus este galho, que hoje representa todos nós, dará muitos frutos, sombra para os passarinhos e cumprirá a sua missão.
Já São Paulo escrevendo à comunidade de Corinto, coloca-nos a necessidade de estarmos firmes no propósito de "sermos agradáveis" a Deus. Que não coloquemos todas as nossas preocupações somente na vida terrena, no cotidiano, mas que tenhamos o vislumbre daquilo que iremos ter na glória celeste.
Depois, no Evangelho de hoje Jesus compara o Reino de Deus como uma semente que é semeada e, sem que o semeador perceba, a semente vai germinando e crescendo. Como podemos identificar que a semente do reino está crescendo em  nós e no meio da sociedade?
Geralmente as pessoas olham muito para as desgraças que acontecem na vida pessoal e da sociedade. Não conseguem ver o que há de positivo. É bem verdade que o apelo para que assim pensemos é fortíssimo, sobretudo atrávés dos meios de comunicação. No entanto, sabemos, principalmnte nós cristãos e cristãs, que no meio de tudo isto está presente também a ação divina, o Reino de Deus.
Há uma simbiose entre o Reino de Deus e a nossa realidade política, social, econômica, cultural e religiosa. Não podemos fugir disso. O Reino de Deus nasce neste chão, no meio da terra fértil e cheia de forças que possam destruir esta vitalidade também. Temos muitos exemplos da presença do Reino de Deus entre nós, como: lutas por justiça no meio dos quilombolas, indígenas e povos atingidos por barragens; consciência verdadeira da política como uma ação para o bem comum do povo; mudança de vida das pessoas através do anúncio do evangelho; atitudes de solidariedade para com os mais sofredores e oprimidos pelos mais diversos tipos de prisão; a presença de grupos, pastorais e movimentos que visam ajudar as pessoas a se encontrarem com Jesus, entre tantos outros exemplos.
Muitas vezes somos atacados pelo espetáculo, mas Jesus nos apresenta um reino que é construído e fortificado no silêncio, na "surdina da noite". É um reino que não precisa muito de coisas grandiosas e espalhafatosas, mas cria raízes no dia a dia do povo e que precisamos reconhecer isso.
Portanto, que como cristãos e cristãs que somos, procuremos fazer o nosso trabalho pastoral sem querermos logo o resultado, pois a messe é de Deus e não nossa. É ele que faz germinar, pois a nossa missão é apenas semear. Por isso tenhamos cuidado em não nos anunciarmos a nós mesmos, mas a Deus e seu projeto de liberdade e felicidade para todos.
Deus vos abençoe sempre! 

quarta-feira, 6 de junho de 2012

O CORPO DE CRISTO NA VIDA DO CRISTÃO




Neste mês de junho começamos celebrando uma festa importantíssima para os cristãos, sobretudo os católicos. É a festa do Corpo de Cristo, ou Corpus Christi. A celebração teve origem em 1243, em Liège, na Bélgica, no século XIII, quando a freira Juliana de Cornion teria tido visões de Cristo demonstrando-lhe desejo de que o mistério da Eucaristia fosse celebrado com destaque.

Em 1264, o Papa Urbano IV através da Bula Papal "Trasnsiturus de hoc mundo", estendeu a festa para toda a Igreja, pedindo a São Tomás de Aquino que preparasse as leituras e textos litúrgicos que, até hoje, são usados durante a celebração. Compôs o hino “Lauda Sion Salvatorem” (Louva, ó Sião, o Salvador), ainda hoje usado e cantado nas liturgias do dia pelos mais de 400 mil sacerdotes nos cinco continentes. A procissão com a Hóstia consagrada conduzida em um ostensório é datada de 1274. Foi na época barroca, contudo, que ela se tornou um grande cortejo de ação de graças. No Brasil, a festa passou a integrar o calendário religioso de Brasília, em 1961, quando uma pequena procissão saiu da Igreja de madeira de Santo Antônio e seguiu até a Igrejinha de Nossa Senhora de Fátima. A tradição de enfeitar as ruas surgiu em Ouro Preto, cidade histórica do interior de Minas Gerais. A celebração de Corpus Christi consta de uma missa, procissão e adoração ao Santíssimo Sacramento.

Esta parte histórica nos dá uma base daquilo que de fato nós estamos celebrando. É fazer memória do ato salvífico de Jesus Cristo, atualizando a aliança. Jesus diz: “Tomai, isto é o meu corpo”(Mc 14,22). Também afirma: “Isto é o meu sangue, o sangue da aliança, que é derramado em favor de muitos” (Mc 14,24). Jesus faz uma atualização da páscoa antiga dando um novo significado. Agora, o verdadeiro sacrifício e realizado por ele, na sua própria pessoa. Dá-se a si mesmo em favor de todos. Não é preciso mais recorrer aos sacrifícios de bodes e carneiros.

Podemos entender que este ato é valorizado a partir da perspectiva da partilha, da solidariedade de Deus para com a humanidade. Mas também é uma ação profética que denuncia a soberba e o orgulho humano. É bom lembrar que a eucaristia é ação de graças.

Jesus faz esta ação de graças e nos ensina que também devemos colocar nossa vida a disposição dos outros. Oferecer a nossa vida em prol dos outros é uma verdadeira eucaristia. Também não se deve esquecer-se de lembrar que a eucaristia transforma aquele que comunga em alguém mais voltado para o compromisso com a realidade do outros.

Em um mundo de hoje, permeado de tantas injustiças, de tanta fome, de tantas pessoas que ainda não tem o que comer diariamente. É necessário que se reflita sobre a importância do partilha e divisão dos bens dentro da sociedade. Não se pode viver dizendo que é cristão e sendo de comum acordo com este sistema injusto de concentração de bens.

Portanto, celebrar o corpo de Cristo é dizer que também acreditamos na partilha, no amor entre as pessoas. É assumir o compromisso de criar iniciativas de solidariedade entre as pessoas, sobretudo comas pessoas que mais sofrem. Não é só uma questão dogmática, mas é de prática da fé em Cristo.

Pe. Jean