O
VALOR DO PERDÃO
Estamos no período da
quaresma, e a Igreja chama a atenção dos seus fiéis para a necessidade da
prática do perdão nos relacionamentos interpessoais. Obedecendo o mandado de
Jesus Cristo que afirma: “Pois, se perdoardes aos homens os seus delitos,
também vosso Pai celeste vos perdoará, mas se não perdoardes aos homens, vosso
Pai também não perdoará os vossos delitos” Mateus 7,14 e 15).
É compreensivo pela
declaração bíblica neotestamentária que há uma necessidade da reciprocidade do
ato do perdão para que haja a real bênção divina na vida das pessoas. Isto vem
ao encontro do que nos diz Mateus quando profere a bem aventurança da
misericórdia: “Felizes os misericordiosos, por que alcançarão misericórdia” (Mt
5,7).
Mas é importante que entendamos
o que é o perdão na perspectiva bíblica. Feito isto poderemos ter uma
compreensão melhor do perdão e a urgência da sua praticidade. Quando Deus fez a
aliança com o povo de Israel asseverou que o povo deveria se manter fiel aos
seus preceitos , pois ele manteria sua aliança até os fins dos tempos. Deus
lembra sempre ao povo que ele é aquele que tirou o povo da escravidão do Egito.
Em Êxodo se afirma: “Deus pronunciou todas estas palavras, dizendo: ‘Eu sou
Iahweh teu Deus que te fez sair do Egito, da casa da escravidão. Não terás
outros deuses diante de mim’” (Êxodo 20,1-3). Esta aliança é quebrada, pelo
povo de Deus, durante os quarentas anos na caminhada pelo deserto. O povo faz
um bezerro de ouro pra adorar por não acreditar mais naquilo Deus prometera a
ele (Ex 32,1-6)
Este resgate bíblico nos
leva a entender que já desde o início a relação entre Deus e o povo foi é de
fidelidade e infidelidade. Quando chegam os profetas a mensagem maior é chamar
o povo para que seja fiel seu Deus. Jesus renova isto de uma maneira mais
atualizada para a época. Ele revela um rosto de um Deus que é Pai e que está aí
para perdoar os nosso pecados para gozarmos da comunhão com ele.
O perdão na concepção
jesuana é um resgate da dignidade humana que se encontra numa situação de
exclusão social e de afastamento do amor divino. Jesus perdoa os pecados, mas
abole a compreensão de que todos os males corporais do ser humano sejam frutos
de sua própria pecaminosidade. Quando cura o paralítico em Cafarnaum questiona
os seus interlocutores que estavam colocando a sua ação em dúvida. Diz ele:
“Que é mais fácil dizer ao paralítico: ‘os teus pecados estão perdoados’, ou
dizer: ‘lavanta-te, toma teu leito e anda?’” (Marcos 2,10 e 11).
Jesus ensina aoa seus
discípulos que o perdão deve ser na perspectiva de libertar o seu humano de uma
situação de exclusão. Não compactua com o pecado, mas enxerga bem o pecador e
faz de tudo para que ele seja liberto de sua condição para que possa voltar ao
convívio de seus amigos e irmãos. Lembremos da alegria que se tem quando um
filho volta ao convívio familiar depois de sair de casa e voltar sem força e
nada para o pai (Lucas 15).
Hoje estamos em uma
sociedade muito individualista que preza muito pela liberdade individual. As
pessoas arrogam-se na condição de ter direito sobre tudo e sobre todos. A
dimensão da coletividade é suprimida pelo egocentrismo e a busca desenfreada
pelo ter e o prazer. Com isso, não há espaço para o perdão como busca de
comunhão, de resgate de unidade entre as pessoas. As pessoas tendem muito a
desenvolver os sentimentos do ódio e rancor umas para com as outras.
No entanto, precisa-se dizer
que o perdão não é esquecimento dos fatos nocivos ocorridos conosco ou com os
outros, mas sim uma tentativa positiva de fazer com que estes fatos não
determinem seus atos vitais a partir daquele momento. Quando eu perdoo alguém,
não estou dizendo que aquele ato inferido pelo outro a mim não tenha feito
consequências duras e até de longa periculosidade. Mas estou afirmando que não
viverei com aquele sentimento de culpa ou de desespero por não ter ou ser
perdoado.
Sabe-se que nos dias
hodiernos, sobretudo pela ciência, que o perdão é um elemento importantíssimo
na prevenção do câncer. Pois quem guarda muitas mágoas, rancores e outras
coisas pode desenvolver várias doênças psicossomáticas, como também físicas.
Portanto, o perdão além de
ser uma necessidade corporal e pscológica, também é essencialmente espiritual.
Partindo do princípio de que Jesus Cristo é o mestre do perdão e assim o
ensinou ao seus discípulos. Assim todos os cristãos devem encarnar no seu ethos
a realidade do perdão como fator
preponderante de realização pessoal e cristã. Em um último lembrete, quero
reiterar as palavras do mestre na oração do pai nosso: “perdoa-nos os nossos
pecados, pois também nós perdoamos aos nossos devedores” (Lucas 11,4).
Pe. Jean Carlos