terça-feira, 7 de junho de 2011

O CLAMOR DOS SOFRIDOS


“Felizes os que têm fome e sede de justiça, por que serão saciados” (Mt 5,6).

Este texto bíblico é extraído do sermão da montanha do Evangelho de Mateus (Capítulos 5-8), no qual Jesus Cristo ensina à multidão aquilo que viera propor como conduta de vida para o discipulado. É importante refletir sobre o que nos diz Jesus neste contexto bíblico a respeito dos que têm fome e sede de justiça.
No tempo de Jesus, muitas pessoas estavam excluídas do sistema social e econômico imposto pelo Império Romano. O sistema de cobrança e tributos era pesadíssimo sobre as famílias e muitas não conseguiam pagar ficando mercê dos proprietários de terra e outros bens. O mestre está inserido neste contexto, sendo que até mesmo a sua família é vítima desta situação. Por isso ele conhecia muito bem a situação das injustiças praticadas pelos grupos dirigentes em relação aos pobres e excluídos: pobre, órfão, viúva, sem terra, sem trabalho, estrangeiro, doentes e outros.
Olhando para a nossa realidade atual, podem-se detectar situações bem semelhantes àquelas da época de Jesus Cristo. Hoje se observa que há situações gritantes onde reina a injustiça. Destaca-se a inoperância e morbidez da Justiça (Poder Judiciário) na defesa dos direitos dos mais fracos e oprimidos. Há um silêncio premeditado e sacramentado em relação à morte de tantas pessoas, inclusive muitas lideranças, que estão tombando na defesa da vida na Amazônia. No Maranhão, depois de um período em que não se ouvia mais falar em conflitos e morte pela terra, agora “pipocou” em vários lugares situações de risco.
Também, observamos a inércia de muitos representantes eleitos e constituídos no tocante aos conflitos de classes sociais com o sistema de governo atual, seja no Estado ou Federação Nacional. Aqui no Maranhão tivemos 73 dias de greve dos professores da rede estadual e o resultado foi pífio, devido ao enrijecimento do Governo nas questões reivindicadas. Temos neste dias o acampamento dos quilombolas na frente da sede do governo estadual, em busca dos direitos sobre suas seculares terras. Boa parte da mídia comprometida com o agronegócio não publica nada a respeito destas lutas sociais na defesa da vida de tantos homens, mulheres, jovens e crianças que dependem de seu habitat para viver e sobreviver.
Diante destes fatos e situações é que podemos nos perguntar se ainda vale o que fora dito por Jesus Cristo naquele tempo e que foi registrado pelo evangelista Mateus quando fala da justiça. É claro que na compreensão de Mateus a justiça significa a implantação e realização do Reino de Deus entre nós. Neste reino haverá a superação das desigualdades e das diferenças que nos excluem um do outro. Não poderá haver mais quem mande ou que tenha mais do que o outro. O sistema político e econômico servirá para ajudar as pessoas a terem liberdade e vida digna. Jesus condena o poder na sua forma de ser interpretado e realizado pelos farizeus, saduceus e escribas e, sobretudo pelo Império Romano. Neste mesmo sermão, mas revelado pelo evangelista Lucas ele profere vários “ais” sobre estes grupos: “Ai de vós...” (Lc 6, 17-49).
Então, a promessa de Jesus sobre a saciedade de justiça continua acontecendo hoje através das boas atitudes e iniciativas em prol do bem estar e vida plena para os pobres e oprimidos. Ressaltam-se aqui todos aqueles que já morreram derramando seu sangue em prol da vida nas mais diversas instâncias. Muitos movimentos sociais ainda tentam construir uma página diferente desta nossa história. Há muita resistência contrária, mas não se pode desistir de novos sonhos e novas formas de vida. Ainda há muitos clamores que precisam ser ouvidos nesta grande pátria Brasil.
Pe. Jean