terça-feira, 4 de outubro de 2011


A IGREJA E MARIA
Durante todo o ano, em toda a parte do Brasil e do mundo inteiro, os cristãos católicos prestam homenagens à Maria, mãe de Jesus, com os seus milhares de nomes adquiridos pelo decorrer dos tempos. No entanto, o nome comum a todos é “Nossa Senhora”. É uma forma carinhosa de dedicar o respeito que estes fieis têm sobre a sua pessoa. A grande questão inerente ao culto devocional à Maria é por que a Igreja Católica insiste que seus fieis continuem prestando-lhe as homenagens. A reflexão aqui tenta abrir espaço para uma compreensão melhor desta realidade na Igreja.
É importante que diga primeiramente, que Maria não é, nunca foi e nem será mais importante do que Jesus Cristo na vida do cristão católico. Há um reconhecimento explícito da Igreja sobre a importância de Maria a partir do evangelho da infância de Jesus nos dois primeiros capítulos do evangelista Lucas.  Neste evangelho vimos Maria sendo agraciada por Deus para receber o seu filho no seu ventre (1,26-45), sofrendo já por Cristo quando este se perde dos pais e fica no Templo (2,41-50) e, outros pequenos episódios que vão costurando toda a textura destes capítulos iniciais. Depois há o fato famosíssimo das bodas de Caná, no qual Maria diz aos serventes da festa: “Fazei tudo o que ele vos disser” (Jo 2, 1-12).
Quando a Igreja Católica reuniu-se para realizar o Concílio Vaticano II (1962-1965) elaborou uma parte do documento Lumen Gentium (LG) na qual abordava a temática mariana e sua necessidade na fé do povo. A Igreja afirma neste documento que: “Pois a Virgem Maria, que na anunciação do anjo recebeu o Verbo de Deus no coração e no corpo a trouxe ao mundo a vida é ‘reconhecida e honrada’ como verdadeira Mãe de Deus e do Redentor” (n. 53). E para ajudar ainda mais na compreensão da sua missão entre nós continua dizendo: “[...] é verdadeiramente a mãe dos membros (de Cristo) por que cooperou pela caridade para que na Igreja nascessem os fieis que são os membros desta cabeça. E por causa disso é ‘saudada’ como membro supereminente e de todo singular da Igreja, como seu tipo e modelo excelente na fé e caridade. E a Igreja Católica, instruída pelo Espírito Santo, honra-a com afeto de  piedade filial como mãe amantíssima” (n. 53). Aqui dá para compreender um pouco qual a razão pela qual a Igreja continua celebrando a devoção a Maria. Ela é apresentada como aquela que encarna o dom da vida para toda a humanidade e se torna o “sacrário real” do Filho de Deus. Ela é corrensponsável pela introdução de Deus na humanidade como ser humano também e filho de altíssimo. Maria se torna mãe para nós na ordem da graça.
O apóstolo Paulo para enfrentar o problema da mediação afirma: “Por que um só é Deus, também há um só mediador entre Deus e os homens, o homem Cristo Jesus, que se entregou para a redenção de todos” (1 Tm 2, 5-6). É claro que já sabemos que Jesus é o único eterno mediador entre Deus e a humanidade.  Porém, a materna missão de Maria a favor dos homens de modo algum obscurece e nem diminui esta mediação única de Cristo, mas até ostenta sua potência, “pois todo o salutar influxo da bem-aventurada Virgem a favor dos homens não se origina de alguma necessidade interna, mas do divino beneplácito. Flui dos superabundantes méritos de Cristo, repousa na sua mediação, dela depende inteiramente e dela aufere toda a força. De modo algum impede, mas até favorece a união imediata dos fieis com Cristo” (n. 60).
O que na verdade, se quer dizer com isso é que a intercessão de Maria não é anulativa da mediação Cristológica, mas ela mesma é impulsionada pelo influxo da força do Espírito Santo. Maria é a serva do Senhor e nela se cumpre a vontade de Deus.  Não só por isso, mas por isso e muito mais a Igreja Católica acredita que tendo um amor especial por Maria também recebe a graça divina no seu meio.
Na Conferência de Aparecida, também os bispos dão um olhar sobre a pessoa de Maria no seio da Igreja e afirmam que ela “é a discípula mais perfeita do Senhor” (Apa. n. 265). Depois diz que Maria teve uma missão única na história da salvação que foi educar e acompanhar seu filho até o sacrifício da cruz. Portanto, ela é a “grande missionária, continuadora da missão de seu Filho e formadora de missionário” (Apa, n. 268). Assim sendo, como na família dos seres humanos, a Igreja que é família também é gerada ao redor de uma mãe “que confere alma e ternura à convivência familiar. Maria, mãe da Igreja, além de modelo e paradigma da humanidade, é artífice de comunhão” (n. 268).
Portanto, cabe-nos conhecer melhor a literatura bíblica e não bíblica a respeito de Maria para que possamos ter uma compreensão mais límpida sobre a mãe de Jesus. Ela é um ícone para nós e continuará sendo, pois a Igreja a tem como modelo de discípulo. Não é um respeito cheio de vácuo, mas que está completo de significado teológico e que nos ajuda a entender melhor o “misterium salutis”.
Santa Maria, rogai por nós!
Pe. Jean