Nestes últimos tempos, tenho
observado que há uma insistência demasiada para que as pessoas se convertam. Fiquei
pensando sobre isso e fui acometido por uma força questionante a respeito de
tal realidade e suas possíveis consequências para a atualidade.
Vejo muitos pregadores, das
mais variadas igrejas, religiões ou até filosofias de vida evocarem a
necessidade de “conversão” das pessoas. Os motivos são diversos e com finalidades
múltiplas. Não há um consenso a cerca dos objetivos desta empreitada.
Um primeiro questionamento que
faço é: o que é converter? Fiquemos com as definições postuladas no Dicionário
Aurélio. Afirma ele; “conduzir à religião
que se julga ser a verdadeira; fazer mudar de partido, de parecer, de modo de
vida; transformar-se, mudar-se; mudar de religião, de opinião”. Existem
outros significados, mas os que interessam para essa abordagem estão contidos
aqui. Segundo o “Aurélio”, converter implica uma crença e uma mudança daquele
que se converte. Há um movimento do convertido ao convertor após uma adesão à
mensagem anunciada. Depois, fala-se da “religião” enquanto objeto de aspiração
e vivência ao mesmo tempo. Também que é preciso que haja um juízo de valor no
tocante a esta adesão.
Por aí se começa a entender
que o ato de conversão é mais profundo do que se imagina, implicando um novo “modo
de vida” na pessoa. Há um envolvimento dela pessoal e total no que se define ao
seu converter-se. Desta forma, a conversão aparece como um ato de “adesão,
entrega e total confiança no novo estilo de vida”, que pode ser em uma
religião, num partido ou filosofia. Isto é muito serio, pois as consequências
disto podem ser tanto benéficas como nocivas na vida do convertido. É salutar
afirmar que aqui não entramos nos vários aspectos abordantes do sentido da
conversão, mas somente no aspecto analítico filosófico.
A partir desta prerrogativa,
conseguimos ter em evidência a conversão enquanto pré-requisito para a
multiplicidade de intenções e fins. Isto ocorre, sobretudo, na manutenção de
grupos: políticos, religiosos e de outras afinidades. É preciso ter novos
recrutas para que os objetivos da ideologia institucionalizada sejam efetivados
com o mais preciso grau de competência. Baseado nisto é que as igrejas e
movimentos trabalham sem pestanejar e com afinco para difundir a idéia de que é
preciso conversão. É mister dizer que aqui não faz um juízo de valor sobre a
ótica da moralidade no que condiz o que venha a ser o bom ou ruim, o bem ou
mal.
No entanto, ao observar a
insistência nos meios de comunicação, sejam áudios ou visuais, no que concerne
ao pedido de que as pessoas se convertam, percebe-se mais a necessidade de
manter a estrutura existente das ideologias em vigor, do que passar uma
mensagem que venha realmente servir de base para uma mudança de vida daquele
que se converte. O jogo é forte e mantém a força de um rolo compressor. As pessoas
não se dão conta de que tudo é maquiado para vender uma imagem “santificada” e “celestial”,
enquanto, o real motivo está subjacente e, que somente a partir de uma reflexão
crítica da realidade se pode encontrar o que está por trás. Daí,volta a questão
fundante desta reflexão: converter-se para quê?
Agora que já sabemos, pelo
menos em parte, sobre a definição de conversão, não se pode mais ater na
conceituação, mas em possíveis consequências da mesma na sua aplicabilidade. Como
foi dito anteriormente a conversão pode ser de efeito benéfico ou nocivo. Imaginemos
que alguém venha a converter-se a um grupo de ideologia nociva para a
sociedade. Será um desastre tanto para ele como para o grupo, dependendo de sua
ação. Porém, se é um grupo que tem objetivos construtivos para o bem da
sociedade local ou global, e que consegue recrutar novos membros. Então, será
uma adesão benévola. Não se pode deixar de dizer que o ato de se converter, em
si, é bom, todavia as consequências podem ser drásticas.
Então, que conversão se pode
exaltar para uma mudança ética e valorativa na vida da pessoa? Em primeiro lugar,
uma conversão que ajude a pessoa a se libertar de ideias falsas que apenas
querem aprisionar o ser humano para usufruir dele e depois não se importar mais
com ele. Em segundo, que seja uma conversão que faça ver o mundo com os olhos
mais abertos, mais críticos e não que crie na pessoa uma amálgama de
fundamentalismo. É sempre bom afirmar que o fundamentalismo é uma vertente
forte na consciência das pessoas e que pode fazer um afeito apocalíptico. Terceiro,
uma conversão que ajude a pessoa buscar caminhos de realização pessoal, social
e comunitária. Não deve ser só uma coisa, pois somos seres sociais e dependemos
uns dos outros. Ademais, urge sempre a necessidade de transformar o meio em que
vivemos. Muitos poderão mencionar aqui a falta da exposição dos grandes líderes
da humanidade, como: Jesus Cristo, Gandhi, Luther King e outros. Mas a intenção
primária deste texto não é falar deles e seus postulados e sim falar da
conversão em si e sua necessidade ou não.
Jean
Carlos dos Santos
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